Chamada incorretamente de síndrome, o transtorno do pânico é uma doença que afeta cerca de 1,6% da população mundial – para cada homem, duas mulheres sofrem com o quadro – e impacta seriamente a qualidade de vida e as relações sociais. Esse problema é caracterizado por recorrentes episódios de ansiedade ou medo intenso quando não há perigo real ou causa aparente – o resultado são reações físicas graves. E qualquer um está suscetível a passar por isso.
“Embora os ataques de pânico não ameacem a vida, eles podem ser muito assustadores. O indivíduo sente que está perdendo o controle, tendo um infarto ou até mesmo morrendo”, conta Luciana Sarin, psiquiatra do Programa de Distúrbios Afetivos (Prodaf) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A crise ainda é marcada por temor ou desconforto intenso, palpitações, tremores, dificuldade de respirar, sudorese e sensação de que irá desmaiar ou “enlouquecer”. Tudo isso acompanhado de um grave episódio de ansiedade.
De acordo com a médica, há pessoas que têm apenas um ou dois ataques ao longo da vida, e o problema desaparece. Porém, muitas vezes eles se tornam recorrentes e inesperados e, por isso, o indivíduo passa longos períodos com apreensão constante de outro surto. Daí começa a evitar situações que disparariam os sintomas, como eventos sociais e atividades profissionais.
É aí que vem a suspeita de que tenha desenvolvido a doença. O diagnóstico é clínico, ou seja, leva em consideração a história do paciente e os sintomas.
“O início é abrupto e a frequência, variável. É possível ocorrer mais de uma crise por semana, com duração de 10 a 40 minutos. Durante o episódio, é comum a impressão de irrealidade ou despersonalização, como se a pessoa não estivesse de fato ali”, explica Luciana.
O início de tudo – e como tratar
“Momentos de estresse, em particular relacionados com perdas, são gatilhos para a primeira crise”, aponta a psiquiatra da Unifesp. Mas ela acrescenta que há condições que aumentam o risco de o paciente desenvolver pânico. Abuso sexual e físico, tabagismo, neuroticismo (uma tendência de ampliar as emoções negativas, que é característica do temperamento de algumas pessoas) e fatores genéticos são exemplos.
Assim como boa parte dos problemas psiquiátricos, o transtorno não tem cura. Porém, com tratamento constante, os sintomas diminuem dentro de algumas semanas e até desaparecem com o passar dos meses. “Ele ajuda a superar os medos daquilo que se evita por causa dos ataques. Mas os resultados levam tempo e exigem esforço”, atesta Luciana.
O psiquiatra é quem vai bater o martelo sobre a maneira de tratar a doença. A psicoterapia ajuda a compreender os surtos e a lidar com eles. Além disso, podem ser indicados medicamentos antidepressivos.
Ferramentas complementares, como técnicas de respiração profunda e de relaxamento (ioga, por exemplo), prática de atenção plena (conhecida como mindfulness) e atividade física também dão uma força. ”É importante ficar longe de cafeína, álcool, cigarro e drogas recreativas, além de manter um sono adequado”, complementa a especialista.
Os portadores do transtorno se sentem culpados, envergonhados e desmoralizados, o que só piora seu desempenho social, profissional e escolar. “De olho nisso, o suporte familiar é essencial para o paciente compreender a necessidade do auxílio profissional para lidar com o pânico e as suas limitações”, conclui Luciana.
Dra Luciana Sarin
Psiquiatra do Programa de Distúrbios Afetivos (Prodaf) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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