Os pais podem tomar banho junto com os filhos? Até que idade?

E Até que idade?

No dia a dia com os filhos são tantas as decisões que os pais precisam tomar, que, muitas vezes, a insegurança bate nas situações mais corriqueiras, como, por exemplo, na hora do banho.

Pensando nisso, escrevi este post com a intenção de oferecer algumas referências sobre uma dúvida que parece ser bastante comum entre os pais: É possível tomar banho junto com o filho sem que isso represente uma experiência de constrangimento ou de excesso de intimidade tanto para os pais quanto para a criança?

Muitas vezes, até que o filho cresça o suficiente para que consiga ficar em pé, os pais costumam dar banho na banheira. A fragilidade do corpo da criança leva os pais a se manterem atentos, concentrados e a tocarem no corpo do filho com bastante delicadeza. Porém, com o tempo, os pais vão ganhando mais confiança na sua capacidade de cuidar do filho e também a criança vai crescendo e desenvolvendo um corpo mais firme. Aos poucos, então, alguns pais, quando percebem que a criança pode tomar banho no chuveiro, optam pela praticidade de tomar banho junto com o filho. Esse hábito é compreensível, uma vez que costuma ser mais fácil dar banho na criança quando se está junto com ela no chuveiro. Além disso, esses momentos podem proporcionar interações divertidas e afetivas tanto para os pais quanto para a criança!

Nesse período, portanto, tomar banho junto com o filho costuma ser um momento tranquilo e divertido, tanto para os pais quanto para as mães, independente do sexo da criança. Até por volta dos 4 anos de idade as diferenças anatômicas não despertam tanto a atenção da criança. Porém, a partir dessa idade é esperado que elas comecem a notar as diferenças entre o próprio corpo e o corpo do adulto, além das diferenças entre o corpo do homem e da mulher. Desse modo, de maneira espontânea, começam a perguntar sobre as diferenças que observam. Essa fase costuma tornar consciente para os próprios pais a naturalidade com que conseguem ou não tratar de temas relacionados à sexualidade. E, além disso, a curiosidade que a criança expressa, muitas vezes, faz com que os pais comecem a se questionar se deveriam continuar tomando banho junto com seus filhos.

Essa decisão é muito influenciada pelos valores de cada família. De qualquer maneira, é importante nessa fase prestar atenção tanto para as próprias emoções quanto às emoções da criança. Se as perguntas, os olhares da criança, ou se a experiência do banho e o contato com a nudez dos pais começam a despertar uma sensação de constrangimento, é possível que essa sensação revele que o limite da privacidade necessária entre as pessoas da mesma família esteja sendo ultrapassado. E, nessa situação, tanto a criança quanto os pais podem se sentir expostos e o constrangimento passa a se destacar nessa interação.

É importante explicar que a privacidade da criança precisa ser respeitada e esse cuidado acontece não só nos momentos do banho, mas em outras situações do dia a dia. Por exemplo, a criança pode se sentir invadida quando alguém tenta fazer por ela o que ela já é capaz de fazer por conta própria, como se limpar no banheiro sozinha. O cuidado com a privacidade da criança acontece também quando os pais se mantêm atentos e não expõem atitudes e confidencias das crianças para outras pessoas, o que evita que ela se sinta exposta de maneira recorrente. A repetição de experiências de exposição pode levar a criança a se sentir frequentemente constrangida e, com o tempo, a vergonha pode se generalizar para as outras relações. Por isso, o cuidado em evitar as experiências de constrangimento e vergonha são tão importantes!

Então, se manter atento ao possível constrangimento que a experiência de tomar banho junto pode causar na criança a partir dos 4, 5 anos de idade é um cuidado com a privacidade da criança que pode ajudar a evitar que a vergonha se torne recorrente nas suas experiências. E se os pais e os filhos sentirem falta da diversão que compartilhavam nesses momentos, é importante ter em mente que o crescimento da criança leva a uma necessidade de atualização constante na relação e inclusive na maneira de se divertir e de expressar afeto. Se nos primeiros anos de vida o afeto é essencialmente expresso pelos cuidados físicos, como o banho, com o tempo, o contato físico permanece importante, mas de uma nova maneira, como nos abraços, beijos, cafunés enquanto se assiste a um filme junto, por exemplo.

Além disso, a relação ganha novas possibilidades e o afeto pode ser vivido e demonstrado pelo interesse nas experiências que a criança se torna capaz de compartilhar, ou pelos novos passeios que se tornam possíveis de serem vividos na companhia da criança na medida em que ela conquista mais autonomia, entre outras possibilidades.

Essa abertura para a transformação na relação nos permite abrir mão de hábitos, como tomar banho juntos, que em um período da vida são muito divertidos e prazerosos, mas que se não forem atualizados podem dificultar o crescimento da criança.

Carla C. PoppaCarla C. Poppa

É psicóloga formada pela PUC-SP, fez especialização em Gestalt Terapia pelo Instituto Sedes Sapientae. É mestre e doutoranda em desenvolvimento infantil na PUC-SP.

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